Terça-feira, 25 de Agosto de 2015

Reflexo(es)

Sempre tive esta ideia profunda de que associada a mim está esta imagem de rudeza que não tem por onde ser suavizada. Habituei-me a não ser frágil, a não ser comedida, a não ser doce… Hoje ocorre-me dizer que perspectivas e ângulos diferentes, sobre mim, nunca me ocorreram, ante esta (in)capacidade de (me) olhar. Terrível, esta nossa profunda incompetência para nos vermos aos olhos dos outros. Terrível também não termos como fugir, nem fazer face à admiração que sentimos pelo outro - que nos partiu por dentro - enquanto nos mostrava que podemos ser, a seus olhos, algo totalmente inesperado… Tal como uma mulher que procura assumir a sua própria beleza, que procura ver o mundo pelo que sai do casulo, sem se deixar ir pelo que diz a convenção, assumindo a natureza por aquilo que ela é – natural – sem fugir do que é sensível, ou do sensual, que são partes do mesmo corpo. .

publicado por Zanita às 22:47
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Quarta-feira, 19 de Janeiro de 2011

Delírios

 

A flor não nasce bonita; nasce para ser uma flor. A sua beleza requer que quem olhe para ela tenha capacidade para a descobrir. Podem passar ao seu lado dezenas ou centenas de pessoas, mas algumas nem sequer se apercebem da sua existência. Outras não encontrarão nela nada singular que a destaque da paisagem envolvente. Haverá também aquelas que pensarão que apenas é mais uma flor.

Talvez apareça quem lhe dedique alguma atenção atraída pelas suas cores e seguirá o seu caminho... Mas em algum momento aparecerá quem não a considere apenas mais uma flor, e tenha todo o tempo necessário para se deleitar a observá-la em cada milímetro, descubra novas sensações ao acariciar suavemente as suas pétalas, e não passe ao largo, mas decida que é uma flor demasiado bonita para não a conservar... Assim, com profundo cuidado e amor, cavará em torno da sua raiz e com todo o seu carinho e atenção a levará para o seu jardim onde a cada momento possa tê-la por perto para a cuidar, apreciar, deixar-se cultivar por ela... para a amar.

E não lhe vai pedir para mudar a sua cor, a sua forma, o seu perfume... Ela nasceu flor. Ela nasceu assim.

publicado por Zanita às 21:16
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Terça-feira, 18 de Janeiro de 2011

Só pode dar amor quem o tem.

 

O verdadeiro amor não pode estar relacionado com qualquer estado de dependência. Amar não tem a ver com carências nem deficiências. Usar a outra pessoa é desrespeitá-la, é uma profunda demonstração de desamor.

Uma criança recém-nascida é totalmente dependente da mãe: ela precisa da mãe, não pode sobreviver sem ela. De facto, não é realmente amor  -ela amará qualquer mulher, quem quer que a proteja, quem quer que a alimente, quem quer que satisfaça as suas necessidades. O problema é que milhões de pessoas continuam crianças durante toda a vida, num sentido amoroso. E o ser humano amadurece no momento em que começa a amar em vez de necessitar. Ele começa a transbordar, a partilhar; ele começa a dar. A ênfase é totalmente diferente: deixa de ser em como obter mais e passa a estar em como dar mais, em como dar incondicionalmente.

O que acontece quando uma flor floresce numa floresta sem ninguém para apreciá-la ou cheirar o seu perfume? Será que ela morre? Sofre? Fica apavorada? Comete suicídio? NÃO! Ela continua a florescer. Não faz nenhuma diferença se alguém passa ou não; isso é irrelevante. Ela continua a perfumar o ar com a sua fragrância. Assim é com o verdadeiro amor.

O amor não é uma relação. É um estado de alma. Uma pessoa verdadeiramente amorosa ama porque é essa a sua natureza; o seu amor não existe apenas na presença de determinada pessoa. O outro recebe o amor que transborda de uma coração pleno - e esse é o amor-dádiva, o verdadeiro amor.

publicado por Zanita às 21:51
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Segunda-feira, 17 de Janeiro de 2011

Viagem dos sentidos

“Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.

Sentir tudo de todas as maneiras.

Sentir tudo excessivamente,

Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas

E toda a realidade é um excesso, uma violência,

Uma alucinação extraordinariamente nítida

Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,

O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas

Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos.

Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas,

Quanto mais personalidade eu tiver,

Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,

Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,

Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento,

Estiver, sentir, viver, for,

Mais possuirei a existência total do universo (…)”

 

(Álvaro de Campos)

publicado por Zanita às 21:43
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Sexta-feira, 31 de Dezembro de 2010

Fantasia de mulher

 

A mulher da fantasia masculina possui delicadeza e feminilidade e é espontânea: quando quer sexo diz que sim, quando algo não lhe agrada pede simplesmente que não se faça e quando tem desejos de fazer algo, não fica calada e propõe sem pudores. Essa mulher diz tudo o que lhe vem à cabeça, guia com palavras ou com as mãos, solta-se e não tem problemas em gritar ou dizer muitas coisas eróticas. Essa mulher contorce-se de prazer e excita o homem com palavras. De vez em quando, essa mulher toma a iniciativa, decide e surpreende. Por vezes domina totalmente. Escuta as fantasias, antecipa-as, entende-as e pensa em realizá-las. Essa mulher gosta também do sexo rápido, sem estímulos nem preliminares e que acontece pela simples vontade. Assume que gosta de sexo, pensa em sexo e deseja sexo fortemente, sem preconceitos. Essa mulher é fêmea e pode possuir com paixão mas também é menina que gosta de se alojar em braços fortes.

Uma mulher que sonha, que deseja, que dá de si mesma, tudo quando pode, tudo quanto deve, tudo quanto sabe.

Uma mulher que beija e se deixa beijar, que ama e se deixa amar, que possui e se abandona.

publicado por Zanita às 23:22
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Quinta-feira, 30 de Dezembro de 2010

Beijo

Um beijo quase nunca é apenas um beijo. É um passaporte.

 

Lábios e calores, centímetro a centímetro, aproximam-se formando encaixes perfeitos, criando o universo. E nesse instante-lugar, o mundo desfaz-se, o fundo desfoca-se, tudo são luzes e sons ininteligíveis. É um lugar muito acima do nível do mar, onde o ar é rarefeito. A sensação de dormência, que começa na boca e corre por todo o corpo entorpecendo os sentidos, ocorre devido à mudança de altitude. A pressão atmosférica em universos paralelos faz com que pensemos que temos o mundo inteiro dentro do peito e os sorrisos mais largos.

publicado por Zanita às 22:45
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Quarta-feira, 29 de Dezembro de 2010

Amor e sexo

Qualquer relação deve ter um início filosófico, metafórico, mas o amor não se vive só como metáfora nem apenas de forma platónica. Assim, há que descobrir juntos como conduzir o corpo um do outro do mesmo modo que se move os pensamentos um do outro à distância.

Inicia-se uma história a dois quando se começa a partilhar ideias, quando o íntimo de um encontrou espaço no caminho poético do outro. Durante a nossa permanente conquista (a vida é uma luta constante), penetramos o outro com palavras, num acto de sedução que é apenas uma espécie de promessa de relacionamento. Entretanto, para penetrar o outro é preciso realmente penetrar o outro.

Descobre-se então juntos que só o corpo é capaz da verdadeira poesia: dizer aquilo que de facto se quer dizer. No amor pelo importa o segundo, a expressão, a explosão viva do que adormece no potencial dos imaginário. O amor pelo outronão existe só na memória; está sempre naquilo que se faz, aparece sempre quando exercido e praticado. É acção e presença. É uma vontade avassaladora, é um facto vivido, que dispensa emails posteriores. É prosa deitada, com poesia. Vive-se tudo o que se pode.

Não se deve aceitar sentimento algum que não seja uma sensação corporal… Juntos, há que aprender novos movimentos, gestos, olhares, maneiras de agarrar e conduzir, modos de nos soltarmos e de nos entregarmos. Experimentar, procurar, sentir…. Usar os dedos para dançar com as mãos. Esfregar os pés um no outro. Fazer massagens de perna com perna, braço com braço.

Há que levar para a cama a decepção com o mundo, a ilusão com o mundo, o fracasso e o sucesso. Há que engolir e transformar o dia inteiro na fúria mansa que entra no corpo um do outro.

Há que perceber que uma história de amor pode ser mais que a tentativa de viver com o corpo aquilo que certa vez fantasiamos na alma.

publicado por Zanita às 22:49
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Sexta-feira, 5 de Novembro de 2010

Felicidade

A ideia da felicidade como “estado” acarreta dentro de si uma fantasia angustiante – quando terminar tal “estado”, o que acontecerá? Sei de pessoas que vivem relações com ventos de feição e mares calmos e começam a interrogar-se: “estou feliz ou acomodada?”, no geral porque identificam a felicidade a níveis de adrenalina incompatíveis com aquele suave navegar.

Eu?, gosto de navegar sem andar à mercê da maré, em tempo de bonança ou enfrentando tempestades, e assim me descubro feliz nalguns momentos. Gosto de estabilidade e diversidade. Gosto de rotinas e de pequenas alterações às mesmas. Gosto de reencontrar diariamente quem amo e gosto de sentir saudades.

O envelhecimento (ou amadurecimento) costuma trazer uma visão diversa da questão, mas também ela propícia a uma boa discussão – tornamo-nos mais sábios ou baixamos as nossas expectativas? Eu acho que nos permite tornarmo-nos mais sábios e por isso mesmo baixarmos as nossas expectativas. Não penso que seja uma questão dicotómica - mais sábios ou expectativas mais baixas? Expectativas mais baixas, num certo sentido, porque mais sábios.

A felicidade é, para mim, uma quimera, algo que se procura e nunca se encontrará. É um conceito baseado em expectativas futuras e quando lá chegarmos estas ter-se-ão alterado e/ou teremos novas. Assim, acredito que a felicidade está "dentro" de nós e não em algum lugar ou em alguma situação; logo, a felicidade é um SENTIR, um SER e um ESTAR; logo, ela, como "coisa" a obter não existe.

Também acho que não há caminhos para ela; ela, a felicidade em si mesma, é o caminho, ou seja, somos felizes se o quisermos ser, se o sentirmos, se o formos.

Aquilo que agora procuro é ser feliz durante a procura da felicidade, que é como quem diz hoje vivo o presente com toda a garra e o futuro há-de ser para onde o presente me levar. Como sou interventiva, quero que seja para onde eu quiser ir.

publicado por Zanita às 21:43
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Sábado, 30 de Outubro de 2010

Não há rosas sem espinhos

"Segue o teu destino...

Rega as tuas plantas;

Ama as tuas rosas.

O resto é a sombra

de árvores alheias"

(Ricardo Reis)

 

 

Dentro de cada alma há uma rosa. Muitos de nós olhamos para nós mesmos e vemos apenas os espinhos, os defeitos. Desesperamo-nos, achamos que nada de bom pode vir do nosso interior, recusamo-nos a regar-nos, a cultivar-nos e, consequentemente, essa possível primavera interior jamais floresce.

Nós raramente percebemos o nosso potencial. Algumas pessoas não vêem sozinhas a rosa dentro dê si mesmas e precisam de ajuda para se (re)conhecerem. Um dos maiores dons que uma pessoa pode possuir ou partilhar é ser capaz de ultrapassar a barreira dos espinhos e encontrar a rosa dentro das outras pessoas. Esta é uma característica do amor: ver verdadeiramente uma pessoa e conhecer os seus defeitos, aceitá-la como é, reconhecendo a sua beleza interior e ajudando-a a perceber que pode superar as suas aparentes imperfeições. Se nós mostrarmos a essas pessoas a rosa, elas superarão os seus próprios espinhos. Só assim elas poderão desabrochar muitas e muitas vezes.

E não é preciso cultivar muitas rosas num mesmo jardim para se encontrar o que procura; tudo pode ser achado numa só rosa, mas essa terá de ser aceite com os seus inúmeros espinhos e o seu jardineiro deverá ser eterno.

publicado por Zanita às 22:37
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Sexta-feira, 29 de Outubro de 2010

Amigo

Hoje perdi um amigo e coisa mais preciosa no mundo não há...

 

(Sérgio Godinho)

 

“Quero ser o teu amigo.
Nem demais e nem de menos.
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida,
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar, quando for hora de calar.
E sem calar, quando for hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais.
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amigo, mas confesso é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças,
Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias...”

(Fernando Pessoa)

publicado por Zanita às 23:31
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